ficha técnica
tríptico _ íntimo-material
eu tinha acabado de acordar (2022)
técnica mista (giz industrial, lápis de cor, grafite, pastel oleoso, pastel seco, nugget líquido, colagem sobre papel madeira)
96 x 66 cm
eu não sei por onde ir: eu quero ficar (2023)
técnica mista (óleo sobre tecido de manga de camisa, giz industrial sobre espelho, carvão sobre papel, gravura em água-forte, matriz de cobre gravada em ponta-seca, óleo sobre matriz de isogravura, tinta de gravura sobre papel sobre tela, fotografia instantânea e lápis de cor sobre papel pergamenata)
96 x 66 cm
eu não quero falar (2023)
técnica mista (carvão e lápis de cor sobre papel madeira, isogravura sobre papel com colagem sobre papel madeira, óleo sobre tela afixada sobre papel madeira)
96 x 66 cm
eu tinha acabado de acordar
(2022)
técnica mista (giz industrial, lápis de cor, grafite, pastel oleoso, pastel seco, nugget líquido, colagem sobre papel madeira)
96 x 66 cm
eu não sei por onde ir: eu quero ficar
(2023)
técnica mista (óleo sobre tecido de manga de camisa, giz industrial sobre espelho, carvão sobre papel, gravura em água-forte, matriz de cobre gravada em ponta-seca, óleo sobre matriz de isogravura, tinta de gravura sobre papel sobre tela, fotografia instantânea e lápis de cor sobre papel pergamenata)
96 x 66 cm
eu não quero falar
(2023)
técnica mista (carvão e lápis de cor sobre papel madeira, isogravura sobre papel com colagem sobre papel madeira, óleo sobre tela afixada sobre papel madeira)
96 x 66 cm
tríptico _ íntimo-material
O tríptico “íntimo-material”, composto pelas obras inéditas “eu tinha acabado de acordar”, “eu não sei por onde ir: eu quero ficar” e “eu não quero falar”, chama à reunião os tempos e gestos de uma poética em que a experimentação de si se serve de intensa experimentação material. Toda a obra mas também cada obra, que não se contém em ser-só, traça um mapa de pistas a um modo de fazer(-se): a inegável dimensão autobiográfica evidencia-se, assim, não só pelo autorretrato em múltipla-repetição, mas pelos modos de se implicar com a materialidade mais ordinária da obra, o que se coaduna com os envolvimentos práticos e afetivos cotidianos para a ativação do gesto artístico e concretização do seu objeto.
O doméstico (histórica e socialmente associado ao feminino) se impõe, continuamente tensionado pelo que se faz nele, dele ou com ele. O privado aqui se esboça no rosto em dor e no corpo em sexo, na bandeja de isopor do peixe da semana tornada matriz de gravura, nas listras da roupa do pai que segura mais um rosto a óleo, na fotografia instantânea que revela e assume um lar temporário feito ateliê, oferecendo uma pista do processo da obra ao lado. No espaço expositivo – propondo-se que as folhas de papel sejam afixadas com fitas adesivas –, as obras se acomodam às paredes como permaneceram abertas e dispostas a continuamente acomodar camadas de tempo nas paredes da casa.
Uma intimidade do tempo-espaço da criação, que é o próprio tempo-espaço da casa, se abre nesse tríptico indiciário, pondo à mostra um comprometimento ininterrupto com a imagem, que, a despeito do risco de se trabalhar nos traveses, pode se servir de tudo para existir em um cada vez maior repertório de gestos e visualidades, convocados por um pequeno, mas explorado à exaustão, repertório de temas.
Desenho, gravura, pintura, monotipia, fotografia. Papel, tinta, tela, carvão, espelho, tecido, isopor, cobre. O desenho, assumida minha linguagem primeira, reivindica sua autonomia ao, em apenas aparente contradição, trazer para perto outras técnicas e linguagens, incorporar seu vocabulário, ou, talvez, fazer delas também desenho. O óleo sobre tela é diminuto no papel; a matriz de gravura em isopor a ele se abandona depois de umas poucas provas caseiras; a matriz em cobre gravada a ponta-seca nunca foi impressa, chegando ao papel de outro modo; as linhas surgidas como imprevistos acontecimentos gráficos do gesto de limpar uma outra matriz de gravura se sobrepõem a uma tela que se sobrepõe novamente ao papel. O desenho é experimentado em sua potencialidade de expandir-se horizontalmente, enquanto o frágil (e pouco nobre) papel sustenta o gerúndio de uma trajetória deixando espaço para o porvir. Em “íntimo-material”, o que se desenha é também uma combinatória de aproximações implicadas em um cooperar com o próprio trabalho, um habitar (com) o próprio trabalho com a imagem.