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caranguejo
caça mangue

a cidade de Fortaleza tem sofrido, historicamente, um processo de urbanização orquestrado pelos poderes do capital, que privilegiam interesses imobiliários, turísticos e empresariais em detrimento do direito à cidade dos seus habitantes. dentre esses, as comunidades à beira de manguezais os assistem desaparecer, desmatados e aterrados, enquanto são retiradas de seus lugares e das redes afetivas, de práticas e de memória que compreendem. lutas históricas são travadas contra a especulação imobiliária, a segregação socioespacial, a precarização de zonas urbanas e a destruição do patrimônio natural da cidade. em última análise, essas lutas são pelo direito à cidade.

caranguejos, seres que vivem na lama do manguezal, insinuam-se pelas brechas, margens, fendas e furos, emergindo enquanto pensávamos que a cidade havia sido tomada pelo brilho das mercadorias dispostas nas redomas dos shoppings, ou que a própria cidade, higienizada e normatizada, havia se tornado ela própria mercadoria pronta para consumo. caranguejos que caçam mangues são como os habitantes que resistem e criam suas próprias maneiras de desenhar e redesenhar a cidade, apropriando-se dos espaços, infiltrando-se pelas ruas, inscrevendo-se nos muros, contradizendo as prescrições normativas e disciplinadoras do espaços, reinventando deslocamentos, perturbando uma dada organização social e simbólica, enfim, teimando no que não se controla em uma cidade.

 

percebendo as sugestivas relações entre os modos como operam esses seres e práticas urbanas entre a arte e o vandalismo, a intervenção urbana "Caranguejo Caça Mangue" constrói uma obra dilatada através de um percurso entre as margens do Rio Cocó em Fortaleza/CE, considerando as áreas de mangue dos bairros Cocó e Sabiaguaba. o uso do sticker (adesivo), expressão característica das artes urbanas, ritmiza e marca a andada com pequenos caranguejos uçá em desenho. 

 

aratus, chama-maré, guaiamuns, uçás: no que resta de mangue na cidade, cada vez menos se os vê. quanto aos uçá, em Fortaleza, já se devorou quase toda a espécie que vivia abundante nos mangues do Cocó, Pacoti, rio Ceará, Sabiaguaba. "andada" é também o nome dado ao fenômeno natural de saída dos caranguejos de suas tocas no lamaçal à procura de parceiros para a reprodução. na intervenção "Caranguejo Caça Mangue", que tem o espaço urbano como lócus de reflexão e atuação, no percurso os devolvemos ao habitat destruído, demarcando, ainda que sutil e sorrateiramente, uma das mais fortes questões urbanas de Fortaleza.

 

projeto (em andamento) apoiado pelo VII Edital das Artes de Fortaleza.

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