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alice dote

dezembro de 2022

fortaleza, ceará

curadoria_ levi banida

toque-me atrás da celulose. por baixo dos pingos de óleo. dentro das línguas. toque-me como quem destrói uma cidade, como quem está prestes a parir um tijolo. coma-me como quem está prestes a ser devorado. sua casa sendo invadida por um mar vermelho. meu-nosso mar vermelho, com pernas abertas pela metade.

a exposição aberturas_ cedo demais é um compartilhamento de boca cheia de uma artista que, ao reproduzir a sua mesma imagem de diversas técnicas, tamanhos, cores e texturas, começa a tornar-se outra. de tanto compartilhar a si mesma, alice dote, artista visual multilinguagem, reelabora-se de diversas formas.

vermelhas faces repetidas de si. cus vermelhos, como também olhos. olhos dos cus, que veem o mundo do exato modo como é: embabado de gozo e desejo. alice disputa uma cidade entre as vísceras e as curvas dos ovários. engole a cidade para não ser engolida, e se atraca em prédio com o interior das coxas.

alice nos dá boas vindas a partir de uma grande tela de seu corpo escorrido, feita em um lápis de cor banhado em gesso. se equilibra na parede, ao mesmo tempo que a empurra, nos empurrando à primeira de quatro aberturas que nos dá, séries costuradas por cavas.

a primeira série é uma transposição sanguínea: alice nos apresenta diversos de seus desenhos, gravuras e monotipias de seu rosto, alocados da mesma maneira que as hospeda na parede de sua casa. nos convida, mesmo sem saber, a experimentar de seu íntimo. uma abertura com sabor dote.

a segunda abertura, logo à direita, reúne uma série de suas gravuras em miniatura, apresentadas em moldura sanduíche transparente. alice, nessa série, nos convoca a olhar de perto, fungando o pescoço das telas, ao mesmo tempo que experimenta uma expografia ousada, misturando pintura em tinta na parede por trás das gravuras, compondo arte urbana e gravuras em papel.

com uma pincelada que invade a direita da série, nos convoca a continuar o percurso em um terceiro momento, que apresenta uma série de técnicas e misturas de texturas. o branco-creme e o vermelho dos papéis variados desponta em uma série de desenhos, que compõe autorretratos e imagens da série “eu não sei desenhar homens”, na qual alice experimenta corpos masculinos, com criações em lápis de cor, gravuras e seu rosto em acrílico sobre tecido. o terceiro momento dessa exposição reforça dois aspectos muito presentes na obra de alice: a experimentação vasta de uma mesma imagem, que se repete obsessivamente em variadas técnicas, cores, cortes e tamanhos; a mistura entre técnicas diferentes na formação de uma mesma obra, na qual friccionam-se tecidos, desenhos, gravuras, pinturas, etc. rasgadas e coladas, justapostas, remixadas, em uma orgia pictórica. no canto direito, uma obra em tela desponta da série, fissurando o xadrez de papeis vermelhos e cremes. um corpo pintado a óleo, com fundo preto, cria um prenúncio para o último momento de “cedo demais”.

para a despedida de suas “aberturas”, essa exposição experimentativa compartilha um novo ímpeto de alice, que toma espaço em sua criação especialmente a partir de 2022: as pinturas à óleo. é um prazer entrar na casa de alice para fazer essa curadoria e me deparar com diversos ambientes de variadas experimentações técnicas. em novembro de 2022, as pinturas a óleo abrigam um espaço primordial na sala de alice, bem como em seus dias. aborda, em uma brincadeira entre figurativo e abstração, temáticas já recorrentes de sua produção: o erótico, a liberdade corporal, os autorretratos, o íntimo, o repetitivo, os vermelhos. e, mais uma vez, encontra maneiras de nos penetrar de outro modo, convocando uma experimentação de seu cotidiano de maneira ainda mais explícita, desafiadora, depravada e cheia de tesão.

é uma exposição de mamilos duros, pinceladas rubras, vermelhos escorridos, que se despede com um objeto arte interessante: um rolo de desenhos e planejamentos, acoplado em uma tábua de madeira. tábua de cortar (a nossa) carne. uma experimentação refinada em arte contemporânea, simbolizando bem a trajetória criativa de alice, que também oferece um recado nítido: de onde abre essa nascente, há um delta inteiro. cedo demais para expor, ou para ir embora?

da maneira que abriu dote, queremos esgarçar nossos corpos.

texto e curadoria_ levi banida

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título aberturas 6_edited.png

curadoria levi banida 

expografia levi banida e alice dote

produção alice dote

montagem jardel cenários

texto levi banida

local patú

agradecimentos levi banida, lucinaura diógenes, tadeu dote, rafael neves, priscila oliveira, osias vieira, daniel chastinet, gustavo diógenes, jardel,

amanda chrisóstomo, marina fontanari, diana souza, patú e equipe

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